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espiões do ministério do interior, aquelas que sofreram depois tormentosos
interrogatórios e tiveram de padecer a agonia de verem os seus segredos mais
íntimos devassados pelo detector de mentiras, e também, segunda curiosidade, o
que andarão a fazer os agentes especializados dos serviços secretos e os seus
auxiliares de graduação inferior. Sobre o primeiro ponto, não temos mais que
dúvidas e nenhuma possibilidade de as aclarar. Há quem diga que os quinhentos
reclusos continuam, de acordo com o conhecido eufemismo policial, a colaborar
com as autoridades com vista ao esclarecimento dos factos, outros afirmam que
estão a ser postos em liberdade, embora aos poucos de cada vez para não darem
demasiado nas vistas, porém, os mais cépticos admitem a versão de que os
levaram a todos para fora da cidade, que se encontram em paradeiro
desconhecido e que os interrogatórios, não obstante os nulos resultados até agora
obtidos, continuam. Vá lá a saber-se quem terá razão. Quanto ao segundo ponto,
esse sobre que andarão a fazer os agentes dos serviços secretos, aí sobram-nos
as certezas. Como outros honrados e dignos trabalhadores, saem todas as
manhãs de suas casas, palmilham a cidade de uma ponta à outra, à cata de
indícios, e, quando lhes parece
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que o peixe estará disposto a picar, experimentam uma táctica nova, a qual
consiste em deixar-se de circunlóquios e perguntar de supetão a quem os escuta,
Falemos francamente, como amigos, eu votei em branco, e você. Ao princípio, os
interpelados limitavam-se a dar as respostas já conhecidas, que ninguém pode ser
obrigado a revelar o seu voto, que ninguém pode ser perguntado sobre ele por
qualquer autoridade, e se alguma vez algum deles teve a boa lembrança de exigir
ao curioso impertinente que se identificasse, que declarasse ali mesmo e já em
nome de que poder e autoridade tinha feito a pergunta, então assistiu-se ao
regalador espectáculo de ver um agente do serviço secreto a meter os pés pelas
mãos e retirar-se de rabo entre as pernas, porque, claro está, não cabe na cabeça
de ninguém que ele se atrevesse a abrir a carteira para mostrar o cartão que, com
fotografia, selo branco e faixa com as cores da bandeira, o acreditava como tal.
Mas isto, como dissemos, foi ao princípio. A partir de certa altura, começou a
correr a voz popular de que a melhor atitude, em situações como esta, seria não
dar troco aos perguntadores, virar-lhes simplesmente as costas, ou, em casos
extremos de insistência, exclamar alto e bom som Não me chateie, se não se
preferisse, ainda mais simplesmente, e com mais eficácia resolutiva, mandá-los à
merda. Naturalmente, as partes de serviço entregues pelos agentes da secreta
aos seus superiores camuflavam estes desaires, escamoteavam estes reveses,
contentando-se com insistir na obstinada e sistemática ausência de espírito de
colaboração de que o sector populacional suspeito continuava a dar provas.
Poderia pensar-se que esta ordem de coisas tinha chegado a um ponto em tudo
semelhante àquele em que dois lutadores dotados de igual fortaleza, um
empurrando daqui, outro empurrando dali, se era certo que não arredavam pé de
onde o tinham posto, tão-pouco logravam avançar um dedo que fosse, e que, por
conseguinte, só o esgotamento final de um deles acabaria por entregar a vitória ao
outro. Na opinião
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do principal e mais directo responsável dos serviços secretos, o empate seria
rapidamente desfeito se um dos lutadores recebesse a ajuda de outro lutador, o
que, nesta situação concreta, se lograria pondo de parte, por inúteis, os processos
persuasórios até então empregados e adoptando sem qualquer reserva métodos
dissuasórios que não excluíssem o uso da força bruta. Se a capital se encontra,
por suas repetidas culpas, submetida ao estado de sítio, se às forças militares
compete impor a disciplina e proceder em conformidade no caso de alteração
grave da ordem social, se os altos comandos assumem a responsabilidade, sob
palavra de honra, de não hesitar quando chegar a hora de tomar decisões, então
os serviços secretos se encarregarão de criar os focos de agitação adequados
que justificarão a priori a severidade de uma repressão que o governo,
generosamente, tem desejado, por todos os meios pacíficos e, repita-se a palavra,
persuasórios, evitar. Os insurrectos não poderão vir depois com queixas, assim o
tinham querido, assim o tiveram. Quando o ministro do interior foi com esta ideia
ao gabinete restrito, ou de crise, que entretanto havia sido criado, o primeiro-
ministro recordou-lhe que ainda dispunha de uma arma para resolver o conflito e
que somente no improvável caso de ela vir a falhar tomaria em consideração não
apenas o novo plano, como outros que entretanto surgissem. Se foi
laconicamente, em quatro palavras, que o ministro do interior exprimiu o seu
desacordo, Estamos a perder tempo, o ministro da defesa precisou de mais para
garantir que as forças militares saberiam cumprir com o seu dever, Como fizeram
sempre, sem olhar a sacrifícios, ao longo de toda a nossa história. A delicada
questão ficou por ali, o fruto ainda parecia não estar maduro. Foi então que o outro
lutador, farto de esperar, arriscou um passo em frente. Uma manhã as ruas da
capital apareceram invadidas por gente que levava ao peito autocolantes com,
vermelho sobre negro, as palavras, Eu votei em branco, das janelas pendiam
grandes
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cartazes que declaravam, negro sobre vermelho, Nós votámos em branco, mas o
mais arrebatador, o que se agitava e avançava sobre as cabeças dos
manifestantes, era um rio interminável de bandeiras brancas que levaria um
correspondente despistado a correr ao telefone para informar o seu jornal de que
a cidade se havia rendido. Os altifalantes da polícia esgoelavam-se a berrar que
não eram permitidos ajuntamentos de mais de cinco pessoas, mas as pessoas
eram cinquenta, quinhentas, cinco mil, cinquenta mil, quem é que, numa situação
destas, se vai pôr a contar de cinco em cinco. O comando da polícia queria saber
se podia usar os gases lacrimogéneos e carregar com os camiões da água, o
general da divisão norte se o autorizavam a mandar avançar os tanques, o general
da divisão sul, aerotransportada, se haveria condições para lançar os pára-
quedistas, ou se, pelo contrário, o risco de que fossem cair em cima dos telhados [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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